Crise na Indústria Têxtil?!..

Já nos habituamos há muito – décadas – a assistir às crises na indústria têxtil, mormente nos concelhos em que prestamos os n/serviços jurídicos de advogados, e muitos são.

Vivemos a crise do “Vale do Ave”, aliás, esperada, de tal forma tinha sido a debandada dos clientes, a má gestão das empresas, falta de inovação e empreendedorismo que infelizmente ninguém via, ou pior, não queria ver.

Pelo que as grandes empresas têxteis, aquelas que podiam fazer a diferença, com marcas e produtos próprios, mercados conquistados, alicerces, expansão e durabilidade, poucas ou quase nenhumas restaram, o que também ocasionou que a população têxtil mudasse de sector e emigrasse à procura de novos e outros destinos, quiçá, não os melhores.

Os vícios, o esbanjamento, a falta de cultura empresarial e de gestão, aliada à facilidade, futilidade, falta de formação e o “deixa andar”, tinham prosperado de tal forma, que chegamos a temer, já nessa ocasião pelo fim da indústria têxtil.

Aliás, com o contributo de alguns – muitos – que procuraram nessas circunstâncias deslocalizar os restos  daquilo a que ainda chamavam empresas, como se fosse possível lá longe, muito longe, na China, Turquia, países de Leste e Brasil, ocorrer milagres e ocasionar que a têxtil que já não era portuguesa florescesse e enriquecesse esses senhores, não as  empresas e emprego.

Mas enganaram-se e alguns ainda tiveram a sorte de regressar e das sobras tentar reconstruir empresas, mas já só de micro, pequenas e algumas de média dimensão.

Com apoios, escassos, mal distribuídos e pior aplicados, lá se foi gerindo a crise do “Vale do Ave”, com despedimentos aos montes de trabalhadores, que cansados e prejudicados de não receberam os seus salários e não terem assegurado o seu posto de trabalho, recorreram aos Tribunais do Trabalho para tentarem colher a necessária indemnização, mas já mentalizados que “têxtil nunca mais”.

Passada aquela crise, supunha-se …, por sorte, que não por trabalho e mérito de muitos, surgiu mais um balão de oxigénio para a indústria têxtil, com o grupo espanhol da INDITEX, mais vulgarmente conhecido por ZARA a “mandar nisto tudo”, a ser a “dona disto tudo”, leia-se, indústria têxtil, obviamente com algumas excepções de empresas e empresários com formação e gestão digna de se aplaudir.

E lá os anos foram passando, sem mais haver possibilidade, para aqueles que seguiram e estão inseridos na Inditex, de programação de produção, facturação, sustentação, duração, inovação e futuro, pois ou havia encomendas, ou não havia, ou poucas havia, pelo que se havia meses de trabalho, noutros nada havia, e era quase o “fim da picada”, leia-se, o fim da fábrica ou “fabriqueta”.

Mas, como dizem os historiadores, a história repete-se, e eis que alguns empresários, aliás, bafejados pela sorte, conseguiram da Inditex encomendas avultadas e nada melhor que deslocalizarem para o norte de África, Marrocos, que está na moda, a produção e, portanto, o trabalho, o dinheiro e a riqueza.

E, obviamente, com essa gestão, aliás, não temos dúvida, é de curta duração, a dar-lhes elevados rendimentos, que pelas aparências de alguns parece verdade, lá estão nos marroquinos, convencidos que têm lá empresas, que irão lá estar por muito tempo, ou sempre, e que continuarão a ganhar “rios de dinheiro”.

Entretanto por cá, as nossas empresas, aliás, micro, pequenas, e já nem sequer falamos de médias, de confecção não têm encomendas e insolvem, sobretudo devido à deslocalização para Marrocos e outras paragens, lançando para o desemprego mais trabalhadores e acabando de vez  com o pouco que restava de bons profissionais, designadamente costureiras, destruindo aquele sector têxtil.

E ninguém vê!..

Mas não é apenas alguma “confecção”, que já insolveu e irá insolver; outros ramos – lavandarias, estamparias, tinturarias e tecelagem – já vão, e mais irão a caminho, enquanto aqueles empresários poderem fazer em Marrocos esses trabalhos têxteis, desde que lhes renda mais alguns cêntimos, mesmo que sejam poucos!..

Mas até ver … e ninguém vê!..

Mas o fim daqueles empresários será breve, quão breve os marroquinos e  outros quejandos percebam que as indústrias são suas e de mais ninguém  e deem saída àqueles, com uma mão atrás e outra á frente, até ao nosso Portugal.

Não foi isso que há anos mais ou menos aconteceu?!..

Para não desprezar os lucros da  “Inditex”, que quando descobrir que os “intermediários portugueses” são substituíveis, ganha mais sem eles, a trabalhar directamente com os marroquinos, e aí é o fim daqueles empresários.

E então, onde estão as  suas empresas?!…as suas marcas, patentes, as suas invenções, inovações e empreendedorismo?.. para não dizer diferença, a disrupção e outros   valores que deveriam ter seguido para se manterem na vanguarda, serem os primeiros e não deixarem ser imitados, aliás, como algumas empresa têxteis, obviamente bem geridas, estão a fazer, e serão estas as salvadoras da indústria têxtil, porém, muito reduzida na dimensão que podia e devia ter.

Esperamos que todas as empresas têxteis abram horizontes, deixem a dependência, o dinheiro fácil, parem com o desemprego e sigam o caminho da durabi6lidade, da diferença e criem marcas, inovem em novos  produtos e   estejam na vanguarda mundial do sector.

Se assim procederem, e podem e devem proceder, por certo que mudarão a história, contribuirão para o aumento da produção, da riqueza nacional, do PIB e ajudarão Portugal a sair da “cepa torta”, onde, infelizmente há muitos anos caiu e parece que de lá não quer sair.

Assim, pessimistas, mas sabendo que a história pode ser alterada, mesmo na indústria têxtil, esperamos o optimismo desta indústria que, apesar da opinião de muitos, para nós continua a ser imprescindível no nosso tecido empresarial.

Vamos Senhores Empresários trilhar o caminho que, embora de difícil acesso, pode conduzir-vos ao sucesso.

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